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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Entrevista: Warpath e Baixo Calão






Voltando a pisar em terras amapaenses a WARPATH (Thrash Metal) foi novamente convidada como headliner da primeira edição do Undergrind – O Retorno dos Malditos, que contou também com a participação da banda paraense Baixo Calão (Grindcore). Os grupos já se apresentou outras vezes por aqui e  tem um público fiel. Aproveitando a oportunidade, o blog Olhar Alternativo bateram um papo nada convencional em dose dupla com membros de ambas as bandas. Acompanhe!

Por: Bruno Monteiro e Jessica Alves

Warpath

Como foi o início da banda?
Márcio: começamos já faz treze , quatorze anos. Começamos como MERCY KILLIN e já tocamos em Macapá como MERCY KILLIN ma vez. De 1999 até 2004, ficamos com esse nome e, em 2004, mudamos para WARPATH. Antes, tínhamos várias formações e, com a WARPATH, estabilizamos, basicamente, como trio: eu, o Danilo (guitarra) e o baterista (Willian). Temos material gravado, um CD...
(Pausa para bagunça e risos)


(Voltando...)


Márcio: a discografia que nós temos é essa. Chegamos a gravar um material como MERCY KILLIN  depois gravamos uma demo e um CD já como WARPATH. Fizemos uma turnê ano passado na Europa com o BAIXO CALÃO, na qual rodamos oito países.

Houve muitas trocas de membros ou são vocês desde o inicio?

Márcio: quando a gente se chamava MERCY KILLIN, era mudança direto...
Danilo: Daquele grupo, só ficou eu e o Márcio.
Márcio: o Willian entrou alguns anos depois e ficou estabilizado nós três.
Danilo: o Willian está tocando com a gente já tem mais de dez anos.

Quais são as dificuldades que vocês enfrentaram e enfrentam ao longo do tempo?

Márcio: a maior é a financeira (risos). Queremos gravar alguma coisa, mas sempre esbarra nessa questão. Mas, em acesso a viagens, temos conseguido fazer turnês. Já fizemos no nordeste e tem essa que fizemos na Europa ano passado. Na verdade, o que estamos buscando mais é fazer gravações ao longo desse tempo.




Em 2011, vocês venceram uma seletiva para o Wacken Open Air. O quanto isto representa pra vocês, poder representar o Brasil no exterior?

Márcio: é válido. Se bem que selecionar bandas é uma coisa muito difícil, dizer “ah, essa banda é melhor do que a outra”.

Willian: o maior não é nem ganhar uma disputa de bandas. O que toda banda pensa quando se inscreve é conseguir gravar um disco por uma grande gravadora e se apresentar num grande festival: a ideia maior é essa. Esse negócio de disputa de bandas não é muito legal.

Vocês já abriram para shows de bandas como Torture Squad, Desaster e Violator. Qual a sensação de fazer parte disso e tocar com elas?

Márcio: o bacana é que criamos amizades e elos. O lado positivo é mais isso: criar esse vínculo com bandas de outros Estados e países. Tocamos com o DESASTER em Teresina (PI) e criamos um elo muito grande com o batera deles, o Tormentor. O básico disso é você criar esse vínculo com essas bandas de outros lugares.


O EP Massacre foi lançado em 2010, teve boa repercussão e ganhou boas resenhas. Ele teve lançamento internacional?
Márcio: Diretamente, não. A divulgação foi feita porque alguém levava. Não teve um selo que distribuísse, mas, quando viajamos, deixamos material lá. Por sinal, lemos resenhas de países que nem sabíamos que tinham escutado nosso som. Resenha da Rússia, por exemplo.
Willian: Quando fomos tocar lá, o pessoal já conhecia o disco e, depois que voltamos para o Brasil, surgiu a oportunidade de relançar o disco, só que em LP. Desde 2010, isso foi muito frutífero também.
Danilo: Oportunidade de split também apareceu. Estamos negociando e estudando as propostas. O BAIXO CALÃO tem um split com uma banda da República Tcheca.

Nos últimos anos, o país tem passado por um revival do Thrash Metal com o surgimento de bandas como WARPATH, BYWAR e VIOLATOR. Como vocês veem esse ressurgimento do Metal inspirado naquele que surgiu no Estados Unidos na década de 1980?
Márcio: Na verdade, nunca atentamos para isso, íamos apenas tocando. Nunca decidiu “Ah, vamos tocar que nem na década de 80, década de 90, seja lá o que for”. Ia tocando. Fazia música sem se preocupar com esse negócio de “Ah, é 80, 90...”.
Danilo: o negócio é fazer Thrash Metal.
Márcio: se soava como naquela época, melhor. Não temos aquela preocupação de “Vamos fazer uns riffs assim e tal”. Fazemos, gostamos, então beleza. Gostamos de tocar Thrash Metal do jeito que achamos melhor.

Baixo Calão 





 Como foi o turnê européia com o Baixo Calão? Como foi essa experiência?


Márcio: só o fato de irmos para lá foi muito positivo. Sabemos que não é fácil, ainda mais que somos aqui do norte. Mas o que é bacana lá é que o pessoal gosta do som das bandas brasileiras, eles dão valor.
Willian: é difícil pra caramba produzir uma turnê dessa, tem que ter apoio. Apesar de árdua pra porra, o resultado é muito grande. Estávamos tocando no berço do Thrash alemão, que é uma influência muito grande para a WARPATH. Foi muito bacana ver um público que está acostumado a ver as bandas que nasceram lá curtir o nosso som, foi muito gratificante. Acabamos conhecendo muitas bandas e isso é fantástico.

Vocês já tocaram várias vezes aqui em Macapá. Como vocês avaliam a energia do público macapaense?

Willian: Tocamos pela primeira vez aqui em 2007...
Márcio (interrompendo): não, 2003, como MERCY KILLIN.

Willian: Cada vez que a gente voltava, o público ia mudando. Sempre gente nova na cena. Isso que é do caralho em Macapá.

A banda foi criada em 1996 e a sonoridade era mais voltada para o Punk. Como se deu a evolução da sonoridade até chegar ao Grindcore que é hoje em dia?

“Porco”: Sempre quisemos tocar Grind, só que, pela nossa “alta qualidade”, não conseguia tocar. Tínhamos que apelar para o Punk Rock até conseguir. Não tinha como tocar porque nosso batera ou tocava a caixa ou tocava o bumbo. Quando ele tocava o bumbo, esquecia a caixa. Aí a mudança surgiu assim. Começamos, de fato, a pegar o feeling da coisa.
Beto: foi também o querer de tocar Grindcore. Também ocorreu a mudança de formação, o que ajudou totalmente.




Willian: Hoje a gente não tem tanta técnica assim (risos), mas dá pra fazer um pouquinho melhor. A ideia da banda é a mesma de 1996. O pessoal fala que a banda mudou muito, já teve entrevista em blog que comentam “Ah, antigamente vocês tocavam Punk Rock e, hoje em dia, vocês são Grindcore”. Mas a essência da banda é a mesma, o que mudou foi só o tipo de música. A base sempre vai ser a mesma: Punk/Hardcore. Não tem muita diferença não, é mais a parte musical mesmo, que nem é tão importante (risos).

Vocês tocaram ano passado aqui em Macapá no IV The Dead Shall Rise, que, por sinal, foi um show de muito destaque. Como vocês avaliam a energia do público amapaense?

“Porco”: Passei muito tempo da minha vida tendo contato aqui, mas nunca dava para trazer a gente. Depois de 16 anos de banda, tem a oportunidade de vir aqui. Superou as expectativas. O pessoal queria, ficou aquela galera que lembrava de nós, mas avisava pra moçada: “Olha galera, não vão pensando que vamos tocar Punk Rock que isso é de ’96, esquece isso”. Só que, quando chegou a hora, o público era totalmente outro, com uma energia fudida mesmo. A gente saiu de alma lavada, saca? Foi muito massa, dei valor pra caralho!

Beto: foi muito louco, foi a primeira vez que eu viajei de avião (risos). Foi bacana, deu uma galera que curte peso mesmo. A primeira vez que o meu nariz sangrou foi aqui (risos). Eu pensava que nariz de negro não sangra (risos). Foi na hora que tava tocando a banda de São Paulo, qual era o nome?

Willian: Nervochaos.

Beto: Nervochaos. Por sinal ajudaram muito a gente.

Willian: eu achei que esse show surpreendeu um pouco, a mim principalmente. Um show muito energético, muito enérgico. Foi uma troca muito porrada.

Beto: foi uma roda violenta.

Willian: uma das melhores que eu vi. O show foi mais do que eu imaginava.

Beto: isso é a base do que estamos esperando hoje.

Willian: ainda mais com essa onda de protesto (referindo-se às passeatas pela diminuição das passagens de ônibus e contra o fim da corrupção), a galera está com sangue nos olhos.

Beto: e é o clima que gostamos, cara. Em Belém... Égua! Todo show dá merda, cara! Gente que se quebra...

Willian: alguém quebra a perna...

Beto: menino cortou a cara, menina pegou um soco, queimam palha de aço assim (nesse momento, Beto gira o braço por cima do corpo como se estivesse segurando palha de aço).

A banda tem 17 anos. Como vocês avaliam as principais conquistas e o momento atual?

“Porco”: a maior conquista da banda é permanecer viva.

Willian: o maior mérito é não ter acabado.

“Porco”: isso mesmo. O maior mérito é não ter acabado porque manter banda é foda, tem que engolir muito sapo. Essa é primeira conquista. Até em terreiro de macumba já nos convidaram para tocar (risos). Enfim, temos a banda desde ’96 e só conseguimos gravar em 2003. Foi quando que a gente parou e falou “Pô, vamos gravar alguma coisa, cara? Está na hora de deixar esse ostracismo”. Aí conseguimos gravar o primeiro disco em 2003. Belém, na época, estava no auge do Metal e a galera dizia “Vocês estão doidos de praticar um estilo que a galera não curte”. Aí eu falava: “O importante da banda, primeiro, tem que ser os músicos, porque se você quiser tocar só para os outros, a sua banda vai acabar”. Depois disso, veio o Discrença, que foi bacana. Depois veio o Tu Crias, que foi a hora que ficamos mais responsáveis e entramos de cabeça no estúdio. No Atmo, de fato, foi aquele feeling programado, com tabelinha.

Beto: o ano que lançamos o Atmo foi o ano que fizemos a turnê.

“Porco”: Foi uma grande bandeira de conquista. Teve o show do Ratos (de Porão), que foi nossa pré-conquista, ter tocado num showzão. Muito gente de Belém, apesar dos quinze anos que tínhamos, nunca tinha nos visto. Teve a oportunidade de ver no Ratos e falava “Égua! Vocês tem quinze anos?” E eu respondia “É, tem sim!”. A turnê, para a maioria que olha de fora, vai dizer “Ah, foi a maior conquista deles”. De fato, é uma coisa fudida. Estávamos lisos! (risos). Passar trinta dias lá na Europa, pirando e...
Beto: comendo bem, bebendo bem, fumando bem (risos).

“Porco”: tocando pra cacete...

Willian: vivendo só o que ouvíamos falar.

“Porco”: vivendo coisas que eu lia em zine e, de repente, estávamos lá. Olhava e pensava “Pô, saímos da puta que pariu e, chegando lá, os caras compram camisa, compram CD, nos tratam bem, mesmo com o nosso português bem dizido. E eles tentando entender da forma mais paciente do mundo nosso “the book is on the table”, principalmente o meu. Mais uma conquista: vamos lançar um split em vinil. Vai ser lançado lá fora, fruto da turnê. Agora a próxima missão é de trazer ele para cá. Enfim, é mais outra conquista nossa.



Como vocês avaliam a cena underground de Belém?
“Porco”: hoje, pelo menos, tem bandas de vários estilos, tem público para Grind, tem público para som extremo. O público vai, paga. Teve uma época que tinha um marasmo fudido em Belém: todas as bandas queriam ser as mesmas, montavam a banda pensando em público.

Willian: em ’98, tínhamos que fazer show na pracinha porque não tinha show em Belém. Pegava bateria velha, botava lá e ainda chamava umas 15 bandas de outros bairros para tocar, porque Belém não tinha nada, até então.

“Porco”: hoje tem shows com várias bandas, o público presente, comprando camisa, CD, material...

Willian: o underground não está mais tão underground. Hoje em dia, está muito profissional agora. Produtores de shows estão tentando chegar mais perto do profissionalismo. Apoio, estrutura, distribuição, bandas estão gravando e sendo distribuídas...  está melhor agora.

“Porco”: antigamente, a estrutura era totalmente desdentada, era no osso mesmo, aquele microfone da Xuxa (risos)

Beto: Na época que eu entrei, em 2002, era uma parada dividida: o pessoal do Metal e o pessoal de um Hardcore meio melódico, que não é muito a minha cara. O BAIXO CALÃO era do Metal, tocava Grindcore e tinha idéias punks.

Willian: hoje em dia, a cena está misturada, somando cada vez mais: é público de Metal, Hardcore, Grindcore... tudo misturando, fortalecendo os shows.

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